sexta-feira, 9 de abril de 2010

FraGmEnToS - Espetáculo - BriNqUeDo PrOiBiDo


Designer Gráfico - Fernando Barbosa e Silva

Antes de sair de casa, pegar uma carona, sem destino, muito angustiada pelo tratamento que vinha recebendo em seu próprio lar, Aniara escreve uma carta justificando os motivos que a levara a tomar tal decisão.
Falando consigo mesma diz:

Minha família precisa saber porque estou indo embora preciso de uma caneta! e escreve:

Eram incontáveis os caminhos a me perseguirem, e eu, titular do meu silêncio tropeçava nas raízes criadas pela ironia que me induzirá à derrota ínfima de um ser esquecido. Secaram-me os sonhos, devastando toda a forma de sentir. Calei-me diante de tudo e entreguei-me ao desespero, de quem desprezado se perde dentro de si. Agora busco no silêncio a resposta. O silêncio foi a única arma de que me vali. Minhas raízes secaram-se com a aridez dos princípios que tive, e os sonhos...? Os sonhos... os sonhos podem estar em algum lugar por aí.
A estrada lhe oferece muito conhecimento e amadurecimento pela vida, mas também muita desilusão, principalmente no que ela mais preservava: sua dignidade de ser humano. Aos poucos, mais uma vez, percebe que muitos de seus direitos haviam sido violados – sofrera inclusive agressões físicas, por pessoas é claro, completamente equivocadas com seu jeito alegre e contagiante de ser, pessoas inescrupulosas que a torturaram pela falta de sensatez e por que não dizer pessoas sem um pingo de sensibilidade – retornando ao lar, “doce lar”, passa a ser mais uma vez, ignorada e discriminada pela família, uma família que se tornou cada vez mais ausente em sua vida.
Sem a mínima estrutura emocional , psicológica, e sem entender onde sua família queria chegar agindo com tanta distância, Aniara acaba se envolvendo com futilidades presentes no nosso cotidiano, e entra num mundo desconhecido para ela, onde toda a alegria e liberdade que sentia e tinha pela vida acaba, tornando-a cada vez mais prisioneira de si mesma. Passa a conviver com pessoas que vivem em questionamentos, e que a conduz ao submundo das futilidades, do álcool, das drogas, das loucuras de ausência e obsessões do nada, e desse mundo aos porões da loucura foi um passo.
Cansada, desamparada e se sentido cada vez mais rejeitada por tudo e todos, Aniara percebe que continua vivendo momentos de dor, e que seu coração se tornou uma cela escura onde as tempestades se multiplicam.
Ao se conscientizar dessa realidade, que seu estado de espírito está totalmente depressivo, sente que percorrerá um longo caminho, desesperador e solitária.
Ainda sim, Aniara com muita força de vontade reavalia sua vida e consciente do que a estrada significou em sua vida lamenta:
Catando os cacos cortantes, dos caminhos trilhados por mim, deparei-me com o ilusório que despedaça todo sentido. O que era nunca foi. O que salvaria aprisiono-me. Sem esperanças morri ali. Nos caminhos tortuosos que passei, nem galhos secos colhi. Quem fui? Não sei.
No que me transformei, me perdi.

Por um instante, não conseguindo enxergar outra opção, chega a pensar em acabar de vez com sua vida, acreditando que o suicídio seria a solução para o fim de seus problemas; já com a forca no pescoço, reflete, desiste e cai em total depressão por não conseguir concretizar essa idéia, se tornando então, prisioneira de um sistema que lhe foi imposto por uma sociedade que sempre considerou hipócrita.
Na realidade, o que Aniara precisa nesse momento é de compreensão, solidariedade, amor, e não ser jogada ou aprisionada nos porões da vida, e o pior, dentro do seu próprio lar, uma vez que era visível aos seus olhos a ausência da sua família... e é claro e sem entender a principio os motivos de tal acontecimento.
Como se atropelada pela própria vida, pelas passagens tortuosas, pela convivência com pessoas perigosas, Aniara pela primeira vez se manifesta agressiva e suas palavras parecendo lhe cortar por dentro exclama:

Me vejo em pedaços. Pedaços de vida espalhada pelo tempo e consumida pelas drogas. Pedaços de gritos soltos no ar, pedaços de loucura gritando por perdão, pedaços do tempo que fez parar, pedaços de vida sem conclusão. fbs./*